É normal, entre amigas, tricotarmos sobre a nossa vidinha: trabalho, problemas financeiros, casamento, filhos. Outro dia fiquei a pensar sobre o que falava sobre meus filhos e o que ouvia a respeito dos filhos dos outros.
Claro, entre amigos desabafamos, falamos mais do que entre estranhos, abrimos o coração. Então, comentamos as vitórias, as lutas e os defeitos de nossos filhos. Percebi, então, que algumas mães tem filhos perfeitos. Nunca ouvi de suas bocas algo de errado que seus filhos tenham feito. Eles são estudiosos, obedientes, sensatos, não são preguiçosos, nunca responderam, nunca contrariaram, suas escolhas na vida são sempre acertadas. Já os meus, "pobres coitados"! Passam por lutas, são bagunceiros, aquilo e ali fazem escolhas erradas, e já viu, quebram a cara. Estão confusos, nem sempre sabem que rumo tomar, e vivem crises existenciais: Será essa a mesma profissão que quero? E tantas outras dúvidas.
Daí penso: Por que será que nunca ouvi da boca dessas mães nenhuma fraqueza dos seus filhos, nenhum defeito? São eles mesmo perfeitos? A resposta é: Esses filhos não existem! Então, elas mentem propositadamente? Não! Certamente esses filhos são cheios de defeitos, de imperfeições, como todos nós, mas essas mães encobrem as falhas! Por que? Ora, filhos assim tão perfeitos certamente foram criados por mãe perfeitas, mães muito sábias, mães que, ó maravilha, souberam como educá-los! Elas passam essa impressão para se mostrarem boas mães, exemplares, mãe dignas de aplausos!
E eu, pobre mortal, toda torta diante de tanta perfeição. O filho dessa outra mãe casou com a melhor jovem do mundo, sempre foi estudioso, correto. Sua filha, então, é um modelo de virtude: organizada, trabalhadora, prendada, forte. Um exemplo!
Como posso eu compartilhar as mazelas da minha vida? Sabe, lembro de uma passagem da Bíblia que diz assim:
"Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados;
E possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza." (Hebreus 5:1-2 enfase minha)
Ora, como tal pessoa poderá se compadecer, compreender as minhas lutas se não está rodeado de fraquezas? Se está, digamos, assim, acima de mim, superior?
Desconfio da razão de tal maneira de ser! Penso que, mesmo inconscientemente (e creio seja realmente), há um desejo de autoafirmação, de auto exaltação, de promoção do ego. Desejo de ser reconhecida, e talvez, só conjecturando, um orgulho disfarçado, um sentimento de superioridade encoberto, e quiçá, uma boa dose de vaidade.
Falo assim, mas apenas refletindo, não julgando, nem condenando, mesmo porque não entendo a mente humana (nem mesmo a minha kkk), e sendo tão tortinha como sou, meu julgamento seria imperfeito, e injusto. No entanto, é um caso para se pensar. E digo cá com meus botões: É, seus filhos são perfeitos. Os meus são normais! Glória a Deus! O que seria de mim como filhos tão certinhos estando eu mesma em treinamento?!
Diante de tudo isso resolvi algo: não mais falarei dos defeitos dos meus filhos, não para essas mães dotadas de filhos que, na verdade, só existem na imaginação da sua vangloria!